Querido Papai Noel do Pólo Norte
Talvez possa parecer um absurdo eu estar aqui tomando o seu tempo com esta cartinha. Eu bem sei que muitas crianças no mundo todo remetem cartas coloridas e cheias de desenhos, na esperança de ter seu desejo atendido. E acredito que o senhor leia a todas com muito carinho, coisa que deve levar tempo. Perdoa então esta minha atitude, mas preciso da sua ajuda.
Há alguns anos, com lágrimas nos olhos, sentei-me no colo de um Papai Noel no shopping da minha cidade. As crianças que estavam na fila me olhavam assustadas. Algumas mães riram (provavelmente pensando que se tratasse de uma brincadeira) e eu vi constrangimento nos olhos do homem vestido de vermelho. O fato é que eu tinha um pedido urgente, um verdadeiro pedido de Natal e se eu não o fizesse da maneira convencional temia que não fosse atendido.
Quando o “meu Papai Noel” perguntou o que eu queria de Natal, pedi pela saúde do meu filhinho recém nascido que estava na UTI e que agonizava entre a vida e a morte. O “meu Papai Noel” ouviu atentamente e me disse que faria o possível. Abraçou-me forte e me presenteou com um pirulito – como faz para todas as crianças. Enquanto me abraçava ele disse: Filha, eu vou rezar por ti e pelo teu filhinho. Agradeci emocionada e fui embora. As crianças da fila já estavam impacientes com a minha presença.
Ainda hoje cada vez que me lembro da cena, as lágrimas vertem, precisei de muita coragem e de uma boa dose de desespero para fazer aquilo. Imagine o shopping cheio e a longa fila de crianças acompanhadas pelos seus familiares... Preciso contar que foi o meu filho mais velho que deu a idéia - na época ele tinha apenas 2 aninhos. Eu achei que valia a pena tentar; ele também já havia feito o mesmo pedido quando a madrinha o levou para ver a decoração natalina enquanto eu acompanhava o sofrimento do caçula no hospital.
Na noite de Natal, da mesma maneira que fiz em todas as noites desde o nascimento, fui ficar algumas horas com o meu pequenino. Havia música natalina nos corredores do hospital e como já era muito tarde as luzes não estavam todas acessas. Eu estava de cabeça baixa rezando, e acarinhava o pimpolho dentro da sua caixinha de vidro, mas algo me chamou a atenção. Quando olhei para o corredor, através da janela da UTI, avistei o “meu Papai Noel” de olhos baixos e mãos cruzadas, ele estava rezando também. Usava roupa normal, mas reconheci o seu rosto. Ao perceber que eu o tinha visto, ele acenou -daquele jeito que os papais noeis fazem, e deixou mais um pirulito na soleira do janelão.
Na manhã seguinte fui acordada com o telefonema da enfermeira-chefe, meu filho dava sinais de recuperação, ela queria que eu fosse imediatamente ao hospital para conversar com os médicos a respeito dos novos exames. Era o meu milagre de Natal!! Hoje meu filho cresce saudável e forte, é inteligente e muito amigo do irmão - eu não poderia desejar um presente melhor!
Esta manhã enquanto eu arrumava algumas coisas em casa, soube pela televisão que o “meu Papai Noel” está internado na UTI daquele mesmo hospital, e quero pedir ao senhor que é o Papai Noel de verdade, que mais uma vez me conceda esse presente - saúde. Só peço saúde àquele doce velhinho, desta vez somos nós que estamos rezando por ele.
Não há nada mais a pedir, só posso agradecer.
Muito Obrigada, Feliz Natal!
Uma mãe
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