era feriado
sem aula, em casa trancafiados com a louca gritona.
eu já sabia que aquilo seria um pesadelo terrível que só seria amenizado pela cesta de páscoa.
era feriado.
o feriado que estudávamos na catequese...
o feriado adocicado...
era feriado
que droga!!
sem aula, sem amigos e em casa.
e o pior,
ele não chegaria ao entardecer daqueles dias.
era feriado...
eu esperava por ele, com mais ansiedade do que esperava pela cesta de páscoa.
ele não era forte, não era bonito, não era moderno;
no entanto, eu o idolatrava.
sempre, sempre, sempre idolatrei.
já nem lembro quando foi que me dei conta disso, e não lembro se algum dia disse a ele - mas, era óbvio que ele sabia!!
era feriado...
ele foi cumprir seus ritos mais sagrados...
ficaria aqueles dias no retiro junto de outros como ele.
eu me perguntava que porcaria seria aquela que me impedia de ouvir as histórias, de sentir o cheirinho, de estar perto dele!?
que mania religiosa seria aquela que me tirava perto de quem eu mais admirava?
era feriado...
todos os anos a mesma coisa
ele retornaria somente no domingo.
que coisa!! como aquilo demorava!
uma vez, quando chegou, um grande e feio desentendimento havia se instalado em casa. Eu estava muda, com raiva e haviam dedos espalmados avermelhando meu corpo - posso dizer que avermelhavam até a minha alma... antes dele chegar eu havia jurado calar e nunca mais falar com a louca gritona.
com toda calma do mundo - coisa que só ele tinha daquele jeito, fez com que eu olhasse nos seus olhos doces, dizendo:
- É páscoa, minha filha!! É tempo de perdão.
...e depois, anos a fio, ele repetiu aquela frase mesmo que não fosse páscoa, para mil outros motivos. Porque ele era feito de amor. Porque para ele o amor só existia n'aqueles que eram capazes de viver o perdão. Porque assim era o mundo dele.
outra vez feriado.
já não ganho a deliciosa cesta de páscoa.
e ele não irá voltar do retiro...
mas eu ainda espero.
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